Dezembro Laranja: É importante observar a própria pele constantemente

A cor laranja é em alusão à Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Pele. Confira a entrevista com a dermatologista Cristiani Banhos Ferreira, da Prefeitura da Serra.

Dezembro Laranja: É importante observar a própria pele constantemente


Texto: Deborah Hemerly - Foto: Wavebreakmedia_micro/Freepik

Com a chegada de dezembro, novas campanhas relacionadas à prevenção de doenças são lançadas. No calendário da saúde, dezembro é laranja e vermelho. O Dezembro Laranja foi criado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e faz parte da Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Pele.

Já o Dezembro Vermelho é uma campanha voltada para a conscientização para o diagnóstico e o tratamento precoce da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

A Secretaria de Saúde da Serra oferece na sua rede de cuidados com a saúde dos munícipes serviços voltados tanto para o cuidado com a pele, quanto o cuidado com a prevenção e tratamento das ISTs. Nesta quinta (01), vamos começar pelo Dezembro Laranja?

O município conta com dermatologistas, que atuam no Ambulatório Municipal de Especialidades (Ames), em Jardim Limoeiro. Como acontece com as outras especialidades, o acesso é via Unidade de Saúde.

Após receber o primeiro atendimento, se for o caso, o paciente é encaminhado para o serviço especializado.

A dermatologista da Prefeitura da Serra, Cristiani Banhos Ferreira, responsável pelo único Ambulatório de Psoríase do Estado, que funciona no Ames, conversou com a equipe da Secretaria de Comunicação da prefeitura (Secom) sobre o câncer de pele, prevenção, cuidados e tratamento. Confira.

Secom - No calendário da saúde, dezembro é laranja, hasteando a bandeira da prevenção contra o câncer de pele. Quais são os principais sinais da doença?

Cristiani Banhos - Os primeiros sinais de suspeição de câncer de pele são lesões que não cicatrizam, sangram espontaneamente e que apresentam crostas e erosões. Além disso, podem surgir lesões nodulares avermelhadas, acastanhadas ou com múltiplas colorações que crescem de forma espontânea ou pintas enegrecidas com mudança de cor, textura, tornando-se irregular e infiltrada.

Secom - A pele é o maior órgão do corpo humano, sendo assim, qualquer área dele pode ser acometida pelo câncer? Quais são as mais comuns?

Cristiani Banhos - Qualquer área de pele pode ser acometida pelo câncer de pele, desde do couro cabeludo à região plantar, incluindo as unhas. As regiões mais acometidas são as áreas expostas ao sol, como a face, colo, membros superiores e inferiores.

Secom - Quais são os tipos de câncer de pele, e suas características?

Cristiani Banhos - O câncer de pele pode se apresentar em três tipos histológicos: carcinoma basocelar, carcinoma espinocelular e melanoma. O carcinoma basocelular é o tipo tumoral mais prevalente, o menos letal e com alto poder de cura se detectado de forma precoce. A lesão de pele mais frequente se caracteriza por uma lesão elevada semelhante a uma pinta que pode ulcerar e sangrar espontaneamente, com predomínio nas áreas expostas ao sol como face, couro cabeludo, orelhas, pescoço e costas.

Secom – E o carcinoma espinocelular?

Cristiani Banhos - É o segundo mais prevalente de todos os cânceres, e se caracteriza por lesões de coloração avermelhada e que se apresentam na forma de machucados ou feridas espessas e descamativas, que não cicatrizam e sangram ocasionalmente. A exposição excessiva ao sol sem fotoproteção é a principal causa do CEC, mas não a única. Alguns casos da doença estão associados a feridas crônicas e cicatrizes na pele, uso de drogas, antirrejeição de órgãos transplantados e exposição a certos agentes químicos ou à radiação.

Secom – Tem, ainda, o melanoma. Certo?

Cristiani Banhos – Esse é o mais grave do tumor de pele, sendo o de pior prognóstico. Porém, quando detectado de forma precoce, a chance de cura ultrapassa 90%. Quando a detecção é tardia, pode comprometer, além da pele, outros órgãos, como pulmão, ossos, intestino e rins.
Geralmente, esse tipo de câncer se manifesta na pele como um sinal em tons acastanhados ou enegrecidos. Porém, a “pinta” ou o “sinal”, em geral, muda de cor, de formato ou de tamanho, e pode causar sangramento. Essas lesões podem surgir em áreas não expostas e de difícil visualização pelo paciente, embora sejam mais comuns nas pernas, em mulheres; nos troncos, nos homens; e pescoço e rosto em ambos os sexos.

Secom – Devemos, então, estarmos sempre vigilantes?

Cristiani Banhos – É importante observar a própria pele constantemente, e procurar imediatamente um dermatologista caso detecte qualquer lesão suspeita.

Secom – Quais os fatores de risco que levam à doença?

Cristiani Banhos – Pessoas de olhos, cabelos e pele claros que se queimam com facilidade quando se expõem ao sol, com fototipos I e II, têm mais risco de desenvolver o câncer de pele. Tem, também, o fator hereditário da doença e fatores que cursam com imunossupressão seja local na pele ou através de medicamentos utilizados que aumentam o risco no desenvolvimento do tumor em indivíduos geneticamente predispostos.

Secom – O protetor solar ainda é o grande aliado da pele, quando o assunto é prevenção contra o câncer de pele? Há especificidade para cada pele, não é? Qual a recomendação?

Cristiani Banhos – Sobre os protetores solares (fotoprotetores), também conhecidos como filtros solares, são produtos capazes de prevenir os males provocados pela exposição solar, como o envelhecimento precoce e a queimadura solar, além do câncer da pele.
O fotoprotetor ideal deve ter amplo espectro, ou seja, ter boa absorção dos raios UVA e UVB, não ser irritante, ter resistência à água, e não manchar a roupa para que tenha aderência.

Eles podem ser físicos ou inorgânicos e/ou químicos ou orgânicos. Os protetores físicos, à base de dióxido de titânio e óxido de zinco, se depositam na camada mais superficial da pele, refletindo as radiações incidentes. Eles não eram bem-aceitos antigamente, pelo fato de deixarem a pele com uma tonalidade esbranquiçada, mas isso tem sido minimizado pela coloração de base de alguns produtos. Eles funcionam como uma espécie de “esponja” dos raios ultravioletas, transformando-os em calor.

Secom – Quais as outras formas de prevenir contra a doença?

Cristiani Banhos – Dentre as medidas de proteção solar destacam-se: uso de chapéus com aba larga, camisetas que cubram a maior parte da superfície cutânea, óculos escuros e protetores solares.
Há outras: evitar a exposição solar e permanecer na sombra entre as 10h e 16 horas. Na praia ou na piscina, usar barracas feitas de algodão ou lona, que absorvem 50% da radiação ultravioleta. As barracas de nylon formam uma barreira pouco confiável: 95% dos raios UV ultrapassam o material.

Secom – Protetor solar diariamente?

Cristiani Banhos – Usar filtros solares diariamente, e não somente em horários de lazer ou de diversão. Utilizar um produto que proteja contra radiação UVA e UVB e tenha um fator de proteção solar (FPS) 30, no mínimo. Reaplicar o produto a cada duas horas ou menos, nas atividades de lazer ao ar livre. Ao utilizar o produto no dia a dia, aplicar uma boa quantidade pela manhã e reaplicar antes de sair para o almoço.

Secom – E no caso de diagnosticado câncer de pele. Qual o tratamento?

Cristiani Banhos – O tratamento consiste desde de procedimento cirúrgico com a exerese do tumor, a eletrocauterizacao, criocirúrgica, laser, curetagem e terapia fotodinamica a depender do tipo histológico, localização tumoral, prognóstico e avaliação do paciente pelo médico especialista.

Secom – Receitinhas caseiras continuam sendo as grandes vilãs da nossa saúde sobretudo da pele?

Cristiani Banhos – O problemático das receitinhas caseiras é o atraso no diagnóstico e no tratamento, que poderá cursar com pior prognóstico e sequelas graves, como desfiguramento e até o óbito quando não tratado.

Secom – E quando passamos do ponto no sol? O que devemos passar sobre a pele?

Cristiani Banhos – Após exposição solar, a recomendação é usar produtos que acalmem a pele, evitar novas exposições solares, sendo preciso procurar um local com sombra, de preferência coberto, para resfriar a pele e aplicar imediatamente o protetor solar, a fim de evitar a absorção de ainda mais raios ultravioletas, sobretudo os do tipo B, responsáveis pelas queimaduras.
Isso evitará também o aparecimento de bolhas na pele, o que pode aumentar a dor e a sensação de ardência, para já não falar dos riscos de infecção. Já em casa, a pessoa deve tomar um banho com água fria, para resfriar a região afetada, e inclusive aplicar compressas de água gelada, além do uso de hidratantes.

Secom – O que são essas bolhas?

Cristiani Banhos – São um sinal de que o sol danificou a pele, inflamando-a. Elas têm por função proteger a pele revigorada que está se formando no local.